domingo, 22 de janeiro de 2012

On The Road...

Por que uma grande literatura é uma grande literatura? As respostas são muitas. Peguemos um livro exemplar: On The Road. Nessa obra, Jack Kerouac lança as bases de um movimento que ficou conhecido como beat. Não é por isso que temos um bom romance. O livro de Kerouac não se tonou uma grande referência porque fez um retrato de jovens inconformados com um cotidiano pacato e questionaram o modo de vida americano. Muito menos podemos afirmar que Kerouac surfou na onda da grande indústria cultural que queria mais um produto para ser comercializado. O autor conseguiu na obra apresentar uma tendência de modo amplo e explico-me, sendo menos evasivo.

On The Road possui sim um estilo bruto e cru que lhe confere certo charme. A construção linguística passa longe da língua mais empolada, mas, ao mesmo tempo, não observamos o famoso estilo límpido. O texto de Kerouac, sensivelmente modificado durante a edição em função de uma primeira versão de um único parágrafo, é forte no estilo mais sujo possível. A obra poderia ser muito mais dilapidada, mas uma força começa a surgir das palavras justamente dessa sujeira.

Mas a questão na para aí. Esse estilo poderia ser usado para louvar uma geração facilmente romantizada. Apesar de muitos afirmarem o contrário, a força do livro não vem de um elogio cego do "carpe diem" beat. Ele mostra a beleza do questionamento de uma sociedade americana sem graça sim. Entretanto, a força do livro está contida justamente no seu nível mais tenso: On The Road já contem todas as críticas mais duras ao egoísmo do jovem que pega um carro e cruza um país esquecendo os seus. Ele faz o elogio e a crítica. Isso me Lembra muito a cena de Os Sonhadores em que o pai precisa deixar um belo cheque para que as cenas lindas do filme continuem. Dentro do filme, um dos maiores elogios à geração de 68, já existe a crítica a jovens que questionavam o poder central e gritavam por sexo livre de maneira lírica ao mesmo tempo em que tinham amparo na estrutura dos "pais burgueses alienados".

Da mesma forma, On The Road critica com riqueza de argumentação a busca pelo prazer desmedido. O livro aponta todo o lirismo de uma geração que buscou aventura e todo o egoísmo dessa busca desmedida pela intensidade da vida. O estilo sujo está no meio dessa tensão da obra e a amplifica. On The Road, então, é um grande livro justamente porque está cindido em duas vertentes claras: o prazer e a responsabilidade. Se tu és responsável por aquilo que cativas, o narrador do livro conhece bem o outro lado da geração beat. A poesia do livro está justamente em um estilo sujo e limpo, prazeroso e conscientemente irresponsável, como uma estrada limpa com um carro a 150 Km sob o sol de meio dia.

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